É um erro pensar que as casas são o signo de uma apropriação do espaço. A casa não estabelece uma fixação espacial do sujeito, do mesmo modo que o nome de um autor não determina um senhorio sobre uma certa parcela textual. Ao invés, habitar uma casa é estabelecer a estranha residência de uma heterogeneidade radical relativamente ao edificado. A casa é o lugar de uma inquietação outra, diferente das incertezas da rua. Mais desabrigada ainda porque é nela que o sujeito se pensa a partir de linhas de luz e sombra que vai vendo fugirem-lhe. Linhas que se movem de quarto para quarto, entre janelas, frinchas e fendas e lhe desarrumam o ser.
Se a casa de Garrett foi negada à nossa aprendizagem do heterogéneo, uma outra aparece ainda legível: a última casa que Maria Gabriela Llansol habitou. Esta aparece no movimento íntimo da amizade. Nenhuma instituição se apossou dela. Ao contrário, uma associação (a Associação de Estudos Llansolianos) passou aí a residir, tomando para si os riscos dessa habitação. Quer isto dizer que não lhe foi imposta uma patrimonialidade vazia. O que não significa que o essencial seja o suspender do tempo. O essencial é a aprendizagem do efeito sobre os corpos das experiências singulares do mundo.
O que é uma casa?
______é um entardecer singular quando Myriam e Ana têm a luz, que as ilumina, apagada; porque, ao crepúsculo, elas estão sempre num contexto de claridade, lendo; a sua mesa foi atravessada pelo eixo dos três quartos que se dispõem à volta da segunda entrada da casa que dá acesso a uma relação interior.
LLANSOL, Um beijo dado mais tarde, Rolim, p. 82.
3 comentários:
Saudações à tua iniciativa estético ideologica, ó Jorge. Que ela seja capaz de transmitir e impulsionar ideias e ideais, e apurar as mentes para as dimensões do intelecto uno e belo.
Saudações a uma nova casa de arte e literatura: que ela seja espaço de encontro de almas, ideias e sentimentos.
Quem sabe se ambas permitirão realizações espirituais...
Bons voos e boas entradas de bloguistas
Pedro T Mota
Caro Leandro Rosa,a casa permite sem dúvida ideias,ideais e sentimentos,porque são espaços de representações e manifestações de emoções,de crenças de doença e cura.A casa é um espaço físico, onde o individuo tem que se sentir bem,porque tem uma relação directa com o seu modo de vida.A habitação funciona como elemento de recarga de energia do ocupante, como input no seu factor de produtividade.A organização do espaço em matéria de uso,representa desde o seu planeamento inicial a permeabilidade das interacções, ambições e pretensões,hábitos e costumes,do ocupante do espaço como uma reinvenção de si, retomada e revisitada como versão única, onde se revela entre o teórico e o prático, estabelecendo uma participação de um mediador cultural, de forma a poder rodar dentro dele. Toda esta relação de diálogo, inicia-se com o estético ideológico,na dimensão do intelecto e do conceito cultural do belo,numa manifestação da estética deliberada e consciente, que se criam nos denominados padrões de normalidade, nas sociedades em geral, assim como no nosso próprio tecido social.
De Emanuel Gomes Monteiro
Caro Leandro Rosa,a casa permite sem dúvida ideias,ideais e sentimentos,porque são espaços de representações e manifestações de emoções,de crenças de doença e cura.A casa é um espaço físico, onde o individuo tem que se sentir bem,porque tem uma relação directa com o seu modo de vida.A habitação funciona como elemento de recarga de energia do ocupante, como input no seu factor de produtividade.A organização do espaço em matéria de uso,representa desde o seu planeamento inicial a permeabilidade das interacções, ambições e pretensões,hábitos e costumes,do ocupante do espaço como uma reinvenção de si, retomada e revisitada como versão única, onde se revela entre o teórico e o prático, estabelecendo uma participação de um mediador cultural, de forma a poder rodar dentro dele. Toda esta relação de diálogo, inicia-se com o estético ideológico,na dimensão do intelecto e do conceito cultural do belo,numa manifestação da estética deliberada e consciente, que se criam nos denominados padrões de normalidade, nas sociedades em geral, assim como no nosso próprio tecido social.
De Emanuel Gomes Monteiro
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