quinta-feira, julho 10, 2008

"O que é uma casa?"


fotografia: http://espacollansol.blogspot.com


É um erro pensar que as casas são o signo de uma apropriação do espaço. A casa não estabelece uma fixação espacial do sujeito, do mesmo modo que o nome de um autor não determina um senhorio sobre uma certa parcela textual. Ao invés, habitar uma casa é estabelecer a estranha residência de uma heterogeneidade radical relativamente ao edificado. A casa é o lugar de uma inquietação outra, diferente das incertezas da rua. Mais desabrigada ainda porque é nela que o sujeito se pensa a partir de linhas de luz e sombra que vai vendo fugirem-lhe. Linhas que se movem de quarto para quarto, entre janelas, frinchas e fendas e lhe desarrumam o ser.

Se a casa de Garrett foi negada à nossa aprendizagem do heterogéneo, uma outra aparece ainda legível: a última casa que Maria Gabriela Llansol habitou. Esta aparece no movimento íntimo da amizade. Nenhuma instituição se apossou dela. Ao contrário, uma associação (a Associação de Estudos Llansolianos) passou aí a residir, tomando para si os riscos dessa habitação. Quer isto dizer que não lhe foi imposta uma patrimonialidade vazia. O que não significa que o essencial seja o suspender do tempo. O essencial é a aprendizagem do efeito sobre os corpos das experiências singulares do mundo.

O que é uma casa?
______
é um entardecer singular quando Myriam e Ana têm a luz, que as ilumina, apagada; porque, ao crepúsculo, elas estão sempre num contexto de claridade, lendo; a sua mesa foi atravessada pelo eixo dos três quartos que se dispõem à volta da segunda entrada da casa que dá acesso a uma relação interior.
LLANSOL, Um beijo dado mais tarde, Rolim, p. 82.



3 comentários:

pedro T mota disse...

Saudações à tua iniciativa estético ideologica, ó Jorge. Que ela seja capaz de transmitir e impulsionar ideias e ideais, e apurar as mentes para as dimensões do intelecto uno e belo.

Saudações a uma nova casa de arte e literatura: que ela seja espaço de encontro de almas, ideias e sentimentos.
Quem sabe se ambas permitirão realizações espirituais...

Bons voos e boas entradas de bloguistas

Pedro T Mota

A blog for Society disse...

Caro Leandro Rosa,a casa permite sem dúvida ideias,ideais e sentimentos,porque são espaços de representações e manifestações de emoções,de crenças de doença e cura.A casa é um espaço físico, onde o individuo tem que se sentir bem,porque tem uma relação directa com o seu modo de vida.A habitação funciona como elemento de recarga de energia do ocupante, como input no seu factor de produtividade.A organização do espaço em matéria de uso,representa desde o seu planeamento inicial a permeabilidade das interacções, ambições e pretensões,hábitos e costumes,do ocupante do espaço como uma reinvenção de si, retomada e revisitada como versão única, onde se revela entre o teórico e o prático, estabelecendo uma participação de um mediador cultural, de forma a poder rodar dentro dele. Toda esta relação de diálogo, inicia-se com o estético ideológico,na dimensão do intelecto e do conceito cultural do belo,numa manifestação da estética deliberada e consciente, que se criam nos denominados padrões de normalidade, nas sociedades em geral, assim como no nosso próprio tecido social.
De Emanuel Gomes Monteiro

A blog for Society disse...

Caro Leandro Rosa,a casa permite sem dúvida ideias,ideais e sentimentos,porque são espaços de representações e manifestações de emoções,de crenças de doença e cura.A casa é um espaço físico, onde o individuo tem que se sentir bem,porque tem uma relação directa com o seu modo de vida.A habitação funciona como elemento de recarga de energia do ocupante, como input no seu factor de produtividade.A organização do espaço em matéria de uso,representa desde o seu planeamento inicial a permeabilidade das interacções, ambições e pretensões,hábitos e costumes,do ocupante do espaço como uma reinvenção de si, retomada e revisitada como versão única, onde se revela entre o teórico e o prático, estabelecendo uma participação de um mediador cultural, de forma a poder rodar dentro dele. Toda esta relação de diálogo, inicia-se com o estético ideológico,na dimensão do intelecto e do conceito cultural do belo,numa manifestação da estética deliberada e consciente, que se criam nos denominados padrões de normalidade, nas sociedades em geral, assim como no nosso próprio tecido social.
De Emanuel Gomes Monteiro